Minha paixão por viagens se deve ao Amyr. O Klink. Sim, ele mesmo.

Comecei lendo 100 Dias Entre o Céu e o Mar, onde ele conta sobre a travessia do Atlântico Sul em um barco a remo. Depois li Paratii – Entre Dois Pólos que é o relato da viagem de 642 dias entre a Antártida e o Ártico a bordo de um veleiro Paratii e sua invernagem preso no gelo na Antártida. Neste livro ele me fez ficar apaixonada pelos exploradores polares. Daí veio Mar sem Fim, que me encantou pela dificuldade da empreitada e coragem do navegador. Em Linha D’Água ele fala da sua paixão por barcos e da construção do Paratii 2.

Por causa dele eu fiquei fascinada pelos exploradores e suas aventuras, viagens em que as pessoas sabem que vão, mas não sabem ao certo quando voltam ou até mesmo se voltarão. O que é totalmente contrário ao meu planejamento de viagem. Totalmente mesmo!

Depois de ler todos os livros que saíram por aqui sobre exploradores polares, descambei para relatos de expedições no Everest. Ah, como eu gosto disso, apesar de achar que nunca irei ver pessoalmente.

Na verdade mesmo, essa paixão por viajar é anterior e foi adquirida nas viagens que fazíamos em família quando crianças. Meu pai amava viajar e acho que herdei esse gosto dele.

Bom, este post faz parte do “Literatura de viagem: cinco livros de viagem e uma blogagem coletiva”. Os links dos blogs participantes estão no final do texto e super recomendo uma passada pelos blogs!

Quatro livros dos quais falarei contam sobre aventuras e são lições de vida; o quinto é uma declaração de amor a uma cidade. Espero que inspirem meu leitor tanto quando me inspiraram. Enjoy it!

1. Mar sem fim, Amyr Klink.

No Dia das Bruxas de 1998, Amyr deixou sua família em Paraty para realizar o projeto de sua vida: uma volta ao mundo, realizada nas águas da Convergência Antártica, que nada mais é do que o mar mais perigoso do planeta, por ser a fronteira entre as águas frias do Norte e as águas geladas da Antártica. Sozinho. Aliás, só na companhia do veleiro Paratii.

Só o projeto já foi um transtorno. O mastro atrasou e a viagem teve que ser adiada por 1 ano, para que fosse possível navagar nos meses do verão. Foram 141 dias, meses sem ver um pedacinho de terra sequer, em um mar do avesso, muitas vezes sem enxergar coisa nenhuma, ventos com velocidade de furacão, gelo, frio e nunca dormindo mais do que 5 horas por dia e em períodos cortados. Um inferno.

Um perrengue danado de lindo que ele dá um sentido neste trecho:

“Um homem precisa viajar por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV.

Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu.

Para um dia plantar suas próprias árvores e desfrutar do calor. E o oposto.

Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto.

Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser.

Que nos faz professores e doutores no que não vimos, quando deveríamos seu alunos e simplesmente ir ver.

Não há nada como admirar um homem. Cousteau, ao comentar o sucesso do seu primeiro grande filme disse:

“Não adianta, não serve para nada. É preciso ir ver. Il fault aller voir.”

2. Sul – A fantástica viagem do Endurance, Sir Ernest Shakleton.

No verão de 1914, o capitão Sir Ernest Shackleton parte a bordo do Endurance com 28 pessoas em sua tripulação e vai em direção ao Atlântico Sul. Seu objetivo era cruzar o continente Antártico, passando pelo Pólo Sul, mas pouco antes de alcançar a base programada, o Endurance fica preso no gelo e acaba sendo destruído, mastigado pelo gelo.

Shackleton e sua tripulação sobreviveram nas placas de gelo, comendo pinguins e focas, sofrendo de escorbuto, desnutrição e frio.

Após quase 6 meses, eles iniciam sua tentativa de salvação nos botes salva-vidas. E conseguiram. Sem perder uma única vida da sua tripulação, Shakleton conseguiu salvar todos, quase 2 anos após o início da viagem.

Sua história é emocionante e profundamente tocante.

Shakleton foi um administrador notável, sempre presente, preocupado com seus homens, com um faro admirável para escolher seus braços direitos, dava exemplo e inspirava sua tripulação, criava divertimento, deixando o ambiente agradável.

Este livro são suas memórias e é incrível ver que ele sobreviveu para escrevê-las. Faz parte do meu sonho de vida ir até a ilha Geórgia do Sul e visitar seu túmulo.

Recomendo também a leitura de Endurance, Caroline Alexander. Neste livro ela mostra através das fotos do fotógrafo oficial o dia a dia da tripulação. Muito bonito!

3. O Último Lugar da Terra – A competiçao entre Scott e Amundsen pela conquista do Pólo Sul, Roland Huntford.

Em janeiro de 1912, depois de enfrentar durante mais de um ano o tempo ruim na Antártica, o oficial da Marinha britânica Robert Falcon Scott chegou finalmente ao Pólo Sul.

Só que ele não foi o primeiro. Roald Amundsen, um norueguês com menos homens, menos grana, tinha chegado lá um mês antes. É dele o título de o primeiro homem a pisar “no último lugar da Terra”.

Famintos, doentes por causa do escorbuto, exaustos, Scott e seus homens morreram no caminho de volta.

O triunfo de Amundsen não foi por acaso. Foi um exemplo de eficácia e planejamento, administração dos recursos e determinação.

Já o mito de Scott como mártir do heroísmo britânico, vai por água abaixo, revelado pelas suas fraquezas como líder e a incompetência que marcou seu empreendimento.

Este foi um livro que marcou minha vida, mostrando como é importante o planejamento em tudo! E ele é tão rico em detalhes que só aumentou minha vontade de conhecer a Antártica.

4. O Meu Everest, Luciano Pires.

Luciano Pires viajou só até o Campo Base da maior montanha do mundo, o Everest. Mas ele conta de uma forma muito fofa, hilária e querida sua aventura.

Ele é fã do Everest, sabem como? E nos transforma em seguidores dessa mesma paixão, essa busca por um sonho impossível. Ele não é alpinista ou montanhista, não é um aventureiro profissional o que torna sua viagem quase possível a qualquer pessoa. Um relato apaixonante.

5. Lisboa em Pessoa, João Correia Filho.

Lisboa em Pessoa foi um livro que comprei após a minha segunda ida à Portugal. Foi amor à primeira página.

O autor nos apresenta Lisboa de um jeito todo diferente, sob a visão do poeta Fernando Pessoa. Recheado de poesias e versos, tal qual a cidade é, esse guia é perfeito!

(foto tirada no Castelo de São Jorge, Lisboa, em dezembro de 2007)

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E para terminar, uma frase do poeta T.S.Eliot:

“We shall not cease from exploration, and the end of all our exploring will be to arrive where we started and know the place for the first time.”

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Participam dessa blogagem coletiva:

Camila Navarro: www.viaggiando.com.br

Heloisa Righetto: www.miblogito.blogspot.com

Karine Fontes: www.cadernotiahelo.blogspot.com

Luciana Guimarães Betenson: www.rosmarinoeoutrostemperos.com.br

Mari Campos: www.pelo-mundo.com

Renata Rocha Inforzato: www.diretodeparis.com