“Trago dentro do meu coração,

Como num cofre que se não pode fechar de cheio,

Todos os lugares onde estive,

Todos os portos a que cheguei,

Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,

Ou de tombadilhos, sonhando,

E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero.

Vi todas as coisas, e maravilhei-me com tudo,

Mas tudo ou sobrou ou foi pouco – não sei qual – e eu sofri.

Vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos.

Sentir tudo de todas as maneiras,

Viver tudo de todos os lados,

Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,

Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos

Num só momento difuso, profuso, pleno e longínquo…”

 Fernando Pessoa